- mas você não tem o direito de reclamar. em nada. em suma, em nada.
- não estou reclamando - retorquiu a moça, ainda que em sua mente pulsasse o desespero das semanas anteriores, e a vontade fosse chorar de raiva e dor.
- reclama, e eu o vejo. vejo suas palavras crepitarem e é coisa indevida, visto que nada temos de concreto.
assim via claramente a situação.
ela sentia desfalecer. meu deus, o que haveria de ser concreto entre esses malditos homens? qual tabuleta cravada a ferro e fogo estabeleceria entre as relações humanas o mínimo respeito? nada. haveria o praxe de todas as conquistas, os mimos, o comportamento admirável... e a facada no momento inesperado.
a moça sentia tamanha absorção nessa condição que era mesmo difícil o que se lhe afigurava. por que haveria de sentir esse descontentamento? pensou por várias vezes ser culpa dela própria, que ciúme não é coisa pura, mas depois lembrou-se que também era da espécie do homem, só que mulher.
e o homem, o homem é falho...
ela queria atinar para o fato de tudo ser normal, mas não conseguia, por enquanto. embora aceitasse muito bem o caráter efêmero das coisas, o que dói, dói, e a mais magnânima das criaturas, se viva, sente doer.
por hora achou que era melhor esquecer todo aquele absurdo.
de fotografias de banho, acompanhadas ou não, adeus. e de vermelho, agora, só o vinho que a esperava em qualquer esquina da cidade.
saiu de casa no momento que vos falo, e sentiu que toda sabedoria humana ainda não alcançada, em todos os aspectos, proveria-se de desligar o computador.