a dor é uma fonte geradora.
avisto flores transparentes rodopiando gentilmente soltas ao vento
como a morte parece dizer sobre o véu da vida
como tempo impõe cada despedida
como resisto calada às intempéries de dentro
a dor é uma fonte geradora.
se ainda resta poesia, ela está em minha garganta
e entoa apenas mentalmente um velho mantra
cuja esperança pequenina ainda dança
de mãos dadas com as flores da vida, tão vívidas
de cores fluorescentes e pulsantes.
não é nem cinza porque cinza é cor e cor são olhos
- e olhos estão vivos -
é ainda um nada inominável onde tudo parece dar
vazio de tudo. não há.
um sonho de presença, segurança e amparo
- esse é de olhos fechados -
um sonho de outra existência
eu que da Terra conheci tantos mestres
com suas verdades num plano de fundo impecável
de folhas verdes como é verde o que nasce
e todos os seres vivos são marrons.
vida de formas diversas coexistindo em amor
bom dia, Deus!
que céu esplendoroso mais um dia...
- mais um dia -
ainda ando, falo e respiro
e o ar me envolve gentilmente os poros arrepiados
o que é isso, afinal?
eu nasci em palavras e nelas me expresso
e sempre fiz caber palavras em cada olhar atento
eu que agora me pego rendida
- não há mais o que dizer!
todas as palavras já foram ditas...
palavras são homens. Deus não tem idioma.
um sonho de dissociar-se desta realidade
suspensa pelas mãos divinas no manto eterno
ontem, hoje, amanhã, não quero
apenas ter o nada porque o nada é paz e há.
o nada impera sobre o tudo.
a dor é uma fonte geradora.