Não tenho medo de fera
Das profundezas d'água doce
Tenho medo do império
Em que o dinheiro é a foice
Não tenho medo de piranha, de onça, bicho brabo
Muito mais me enoja uma corja de deputados
Gente que se diz decente vestida no seu terno
Mas faz gente como a gente padecer no inferno
Da priva(tiza)ção de tudo que a natureza
Dá em abundância
Ver ser criada e rompida uma represa
Pelo martelo da ganância
Num estado que tem nome
Da sua miserável sina
Ainda faz escravo o homem
No fundo da terra das Minas
Fazendo aflorar a céu aberto
O que deveria permanecer oculto
Crendo que é senhor das águas com seus aquedutos
Enquanto um rio chora as mágoas do desvio do seu curso...
Porque quando um peixe morre por asfixia
Morre atrás a teia da população ribeirinha
Uma senhora chora a sede, chora a morte do seu filho
E mal sabe que a culpa é justamente dos desvio$...
Enquanto o poder humano
Alimenta esse sistema
Chora de fome o Oceano
Vendo morrer o ecossistema
Não queria ver tanta dor, tanta vida em tóxica aflição
Mas que fosse rompida a barragem da desinformação
E que essa lama, do poder fosse atrás
Porque "da 'lama' vieste, e a ela voltarás"
Eu tenho medo é das ciladas
Em que o dinheiro é a foice
Choro com lágrimas salgadas
A morte do Rio Doce.