segunda-feira, 1 de abril de 2019

Medida Cautelar

Piso com a veemência de quem tem um compromisso urgente
Caminho pelo Passeio com a determinação de um burocrata
Creio ter ganhado até algumas rugas na testa...
A vida adulta me cobra que eu enfim seja gente
Mas tem uma parte em que preciso ser mais sensata
É na certeza profunda que viver de amor já não presta...

Pra isso não existe receita infalível
É preciso um relógio que conte os segundos
É preciso não ler romances profundos
E é mesmo preciso abstrair-se do sensível

Talvez seja monótono só confiar no factível
Mas torna-se estritamente necessário
Escrever poesias se torna quase impossível
E o vinho, um ferrenho adversário

Logo eu, tão dada às vãs divagações
Das horas de languidez apaixonada
Me vejo matando o ócio em proporções
De uma frieza quase que desesperada

A paixão levou-me os cabelos,
A rigidez dos músculos e seios
Introjetou meia tonelada de medos
Começou me comendo pelos dedos
Para depois me regurgitar apavorada
Mas a paixão não começa pelas beiradas
Graficamente uma flor brutalmente deflorada

Por seu caráter sorrateiro
Deve ser duramente combatida:
Declaro meu amor primeiro!
Com a certeza de só ter essa vida

Chega de experimentos mal sucedidos
Recebendo migalhas e traumas em troca
Nunca mais entorpecer os sentidos
É o preço que a mão do tempo provoca

Se ontem amei intensa e profundamente
Hoje me tenho quase que literalmente vacinada:
Não espero mais nada de nenhum tipo de gente
E do amor é que certamente não espero nada!