tem dia que a tristeza bate e o canto dos pássaros tecendo a alvorada é prenúncio da melancolia. o tempo fica suspenso.
tem dia que a tristeza bate e empurra e entra e domina e expande a casa inteira.
tudo que ressoa, tudo que pinga, tudo que cheira, em tudo que o olho bate há tristeza.
e os objetos todos ficam tristes.
quando a tristeza não escorre, ela não grita, ela não golpeia, quando a tristeza não arde,
ela só se instaura com uma completude estática de contemplação.
adormece mortificado o que antes parecia calor e som.
a lembrança desse alaranjado é quase tão inorgânica quanto um laboratório de fantasias.
fosse 7 pés abaixo de mar ou terra ainda imperaria esse silêncio.
parece que nunca houve nada tão cinzazulado, horizontal e frio. parece que nunca houve nada.
no gênesis, a tristeza. no apocalipse, a tristeza.
meditação solipsista,
meus olhos taciturnos semiabertos, minha respiração serena e ritmada e o resto do mundo todo tá lá fora.
aqui e agora só existe eu.