sábado, 15 de outubro de 2011

IV

E atirado no chão de cascalho,
Ria um riso quase ribeirinho.
"Tu te ris de mim?"
Calou-se.
Prescrutava a imensidão do sol. Imantava a relação cósmico-pessoal como se um raio o tivesse percorrendo a traqueia para abrir-se trovão pela boca.
Dobrou-se de lado, retorcido.
Acordara agora para encenar a peça, que, inegável, terminara com o findo sopro.
Estirado entre carvalhos.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Haikai Particular

Preciso de afeto
Para que encontre na casa do corpo
O meu teto.


06/07/2011

Poema Ébrio

Que suporte falho me ofereces!
Do sonho que tive, nada resta
É impossível ouvir as preces
Absorto no trânsito da sesta

E a madrugada atritante
Sorve-me como sorvo tragos
De qualquer algo excitante
Que me distraia te teus estragos!

E na mente hábil, conflitante
Cresce íntimo desejo atroz:
Ainda que dois errantes
Tão preciosos seríamos nós!


21/04/2011
O oco na sala deixa o apelo
Esperança que cabe no desespero
O nó na garganta, o nó no cabelo
E o toque cru na pele e no pelo.

A cruz e o fado do amor e do zelo.


 11/02/2011

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Frágil I

Pelas vielas ambivalentes
Há aqueles que se contemplam
Ó meu Bom Jesus da Lapa
Empresta pouco da luminescência
Para que se encontrar
Numa janela dessas, cerrada
A antagônica que adormece
Dentre escárnios e carícias
No peito do seu credor.

Abre portas, imola casas
Diz no ínfimo dessa gente sórdida
Que as vielas das almas
Encontram-se demasiado ocupadas
Com as putrefações do ego.
Mostra as crianças raquíticas
Os cachorros abandonados ao relento
E os jovens atormentados.

Mas não te esquece do feminino,
Do roto no ventre, o pródigo tirado
Os vícios que declinam suas peles
O amor de seu corpo arrancado.
A mancha precoce do eco.


21/01/2011