quarta-feira, 7 de agosto de 2013

branco é branca

acordo
no pântano lamacento da saudade
esqueci que a cidade
me deixa à parte de você

pinta
tuas cores mais insanas
não há de haver santas
humanas
aonde estiver

branca
ô branca.
ar de vida de mulher.

seja gêmeo de mim e pulsa
me pega pelo braço e foge
de mim, de ti, do que vier

branca
ô branca
faz de mim o que tu quer.

corpo nu, desejo, chama
me chama, me ama, me engana, se quiser
me tranca de novo em seu quarto
puxa a trança dos meus cabelos opacos

antes que a saudade profane minha fé.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

cristais (ou a dança das sete águas)

dentro do rio menina moravam sete águas

e o rio menina não sabia dançar.

haviam águas de escorrer,
águas de batizar
água de nascimento
água de tormento
e água de limpar
águas de espelho
águas de mistério
água doce mansinha
e o rio menina só queria jorrar

oxumaré remexia as ancas aqui
iemanjá trazia o rebento de lá
mãe nanã vinha com as águas do ar
tétis, filha de gaia, paria gotas infinitas
e as sereias cantavam pro sol pousar
sarasvati reluzia os sete de além mar

peixes sonhava em constelação
câncer se compadecia da situação
e fluía escuro o sombrio escorpião

cachoeira.

onde deságua gozo e deságua dor
profundeza de tudo é o estar
o rio menina não sabia fluir,
o rio chorava o sal do mar.

amanhã voar

a carne é tão apegada ao chão quanto a alma ao luar.

brinca comigo, amor, que eu te dou uma rosa
rosa branca com perfume de nuvem adocicada

e essa rosa é tão irremediavelmente branca...
que vem o tempo e subitamente sopra
e as pétalas voam e compõem uma nuvem
tão doce e tão efêmera
quanto o perfume
a essência

amor.


19/07/2013