segunda-feira, 29 de setembro de 2014

XLI

eu queria me lembrar do que sou feita. então ascendi terra. e da terra fez-se uma floresta encantada com uma rocha impenetravelmente protetora.
eu queria me lembrar do que sou feita. então afoguei-me nas minhas lágrimas contidas e lembrei que água é tudo aquilo que transborda o endógeno.
eu queria me lembrar do que sou feita. sei que essa frase feita parece consumir. mas nasci. nasci mineral e elemento, viva da natureza mãe que me criou. sou cria um tanto quanto aérea e dual na dança do horóscopo...
e fogo que arde, nada. esperava uma combustão de apenas quatro elementos, mas o fogo faz falta para aquecer um coração ancião...
olhei nas linhas da minha mão e teci um mapa que me leva até as linhas da minha corrente sanguínea, que me leva ao meu dna.
alguém teceu um código tão rico que hoje sou o que já fui desde o início dos tempos.
é carne o que me representa.
mas o espírito que ultimamente anda velho e cansado, orbita. orbita, permeia, perpassa e enlaça sutilezas nesta amada Terra. o espírito se deixa guiar os dedos para que se escreva (de acordo com nenhuma tradição poética) uma oração que se desprende de mim como redenção e alívio.
o quinto elemento que me compõe é isso. o indescritível. que é o elemento final que compõe todo esse espetáculo que diariamente acompanhamos. não saberemos. não aqui. não agora.
esta é a grande poesia.
me lembro de escrever apenas quando o coração fica tão pesado que é um movimento necessário de salvamento. escrever sobre o lamento parece imperar sobre a alegria.
mas carregando uma tormenta de noite e de dia, é que me lembro de escrever poesia.
nasce de mim a reza crua e cíclica, vem de água densa molhando a terra e no ar fica rarefeita.
ela também quer se lembrar do que foi feita.

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