sexta-feira, 13 de outubro de 2017

193. caminhante do céu espectral vermelho

não pensei necessariamente sobre você
sobre o mistério que envolve te adentrar
não tem nada a ver com as suas preferências
o jeito que você acorda de manhã
o que te faz tremer de medo em silêncio

é muito mais sobre mim
se escrevo poesias românticas
é sobre mim
se bebo da água até sugar a fonte
e mudo meu destino nômade
é muito mais sobre mim
meu descontentamento
minha estafa
meu solo árido e estéril
o gosto ocre do meu sangue

você, vocês, seus ciclos
de começar um dentro do outro
são fragmentos partidos do meu espelho
eternamente vagante
que desacreditado de crenças
acredita em todas elas



"Dissolvo com o fim de explorar
Libertando a vigilância
Selo a saída do espaço
Com o tom Espectral da liberação
Eu sou guiado pelo meu próprio poder duplicado

“Equilibro-me, desapego-me e a abundância cresce em mim liberando um caminho para o céu.”"

terça-feira, 29 de agosto de 2017

carbono

a decadência emerge dos olhos de mil mulheres cansadas.
joelhos dobrados, costas curvadas, queixo solto, olhos caídos, cabelo ralo, dentes fracos, unhas sujas, pés rachados, carne solta, pele acinzentada.
mente morta.
como um grão de areia que incomoda uma ostra a ponto de se transmutar em pérola
dos ossos exaustos de mil mulheres cansadas emerge a bruxa.

tecendo da memória os dias de brilho intenso
da teia dos meu cabelos trançados reconecto a um filamento que ainda é este corpo.
ancestrais
e minhas células se lembram por que carregam o peso de mil mulheres mortas.

o gosto do gozo, o suor, o lençol solto da cama, pelo de cachorro, língua áspera de gato, hálito quente
o estar farta

e da trança dos meus cabelos reverbera a estafa que aprisiona a consciência de mil mulheres cansadas.
se fecha os olhos inchados de lágrimas é no outro mundo que performa a dor de milhões de gotas d'água salgada.
se chora, se rega, se é vida, é o prazer da dor é amar cuidando é ser lindo sofrer pra nutrir
e a árvore de raízes profundas suga todos os nutrientes conquanto incapaz de perder o oco de sua copa rasa
com galhos anões truncados incapaz de dar folhas, flores, frutos ou asas
é karma

e dentro do ouvido zunindo ecoa o grito e mais alto ainda o silêncio de mil mulheres cansadas.

e o chicote na epiderme dos nervos que são cordas tensionadas te mantém incriteriosamente atenta.

e o tempo passa é dia é noite é madrugada é criança é velha é semente é morada é pó
uma entidade balança a saia e ao correr atrás de migalhas ressecadas me lembro da garganta seca por beber água corrente de cachoeira, sou minha vó

você se importa com uma velha cansada?

e no entanto transborda vida, abundância dada, é benzedeira é matriz é pé no chão, anca agachada, mão na terra, fertiliza e morre a esmo
deita arrependida e estupefata
e de carregar a humanidade adormece profundamente aprisionada em si

terça-feira, 25 de abril de 2017

mísselânea I

se há uma maneira
de superar o monotema em poesia
é desvencilhar da autoria,
deixar de falar de si.
se a propriedade é virtual e não existe,
como pode o mérito existir?
das ilusões do capitalismo
a mais perigosa é a de sujeito,
origem de toda forma de desrespeito
é a alucinação da auto importância,
na era da ganância
pompa do proselitismo
que te enche de conceitos.
maldita iconoclastia que não se supera
temo o novo mas ainda estou à espera
do rebento que findará estes tempos nefastos
em que ficamos mais estupefatos
com artifícios tecnológicos
do que com a bomba do neo-ópio
implodindo a cidade de dentro pra fora:
se a viciada grávida não existe,
a selfie triste da atriz não se ignora.
a tanto tempo já existe a vitrine
mas agora não tá claro quem te oprime
porque todos mantêm os hábitos do opressor
se o sujeito é supervalorizado
há um que prefere estar mascarado
e pode atender pelo nome de mercado.
é ele quem põe menino com fome na cela
que lança a tendência do luxo na telenovela
vende arte no estandarte
no aguardo da vanguarda
lucrando com o cancro
papel moeda da poesia concreta.
cristo na crista da onda
figura canecas
com frida kahlo e che guevara.
você quer o troféu do ativismo na sua sala?
da pra beber marginalidade, vestir vandalismo
a estética desfaz abismos entre a grife e a revolta.
revolução é a última palavra em proposta
convite sedutor à nova cara da agiotagem:
ta de cara limpa, mas de maquiagem!
porque a moda é a ilusão do acesso com o plus da raridade,
você tem a cópia que tem lá o seu quê de verdade.
a rotina não pode incomodar, então o prefeito
lança o olho cheio pra comprar o grafiteiro
para não te deixar lembrar que cê é só um objeto
enquanto você anda todo dia o mesmo trajeto.
na estética do efêmero,
é chique não ter tempo,
atestar algo partir.
o que te sobra de memória
se a história tem medo da história
sobrecarregar e deixar de existir?
a geografia há muito já atestava
quantas foram as expropriadas rojavas
indígenas, africanas, tradicionais e esquecidas?
pela mão dos genocidas a guerra vende na indústria
trazendo passado e presente pra mentes entorpecidas
que se julgam, entre todas, as mais lúcidas.
a linha que serve pra demarcar fronteira
é a linha que desenha estrelas na bandeira
a linha que separa a perna da rasteira
o cume e a base da pirâmide.
o chão tá banhado de sangue
mas no topo, só um papel infame.
a menina síria que olha pro céu procurando borboletas
corre de pavor quando avista a massa preta
que vem de cima, a tal da arma biológica
que mata rápido o mais fraco e vende na ameaça tóxica
que antes de degustar, tiramos fotografia.
depois superlotamos o armário da pia
de remédio para amenizar efeitos colaterais
de remédios que não curam problemas sociais.
e achamos que os problemas vêm da esquerda pra direita
e achamos que votar é a melhor coisa a ser feita
como se realmente tivéssemos opção...
para nossa culpa esperamos a extrema unção
que vende mais rápido que qualquer empresa
a salvação tá a preço de mamão lá no altar da igreja
que com a carapuça da caridade mata quem não a corteja.
cada país tem sua globo
o estado não é bobo
montou um aparato de alienação em massa:
ou você vive e consome
ou sucumbe de fome
e a morte te abraça.

segunda-feira, 6 de março de 2017

pensei em nós sendo nós mesmas
e a simbiose do entrelace intergaláctico
pensei que se planetas, orbitaríamos estrelas grandes.

há também o desrespeito das outras
e o desespero delas
que estão juntas na estrela que brilha num céu de guerra.

há faíscas perigosas
e também há quem diga que fogo é alimento
e só basta que se acorde a centelha.

vi nas atividades que no en(t)canto
não somos vanguarda nem únicas uma para a outra
e tem aquela coisa dos poemas secretos
que não seriam recitados pela mais baixa e serena voz.
e se houvesse voz tu seria grito
e eu silêncio de lápide.
lapidamos as pedras brutas que se reproduzem aos montes
mas lapidar não é vida porque se enrijece, não flui
e tão úmidas as noites, mas os fluidos tão rasos
não arriscamos mergulhar no abismo dos olhos abertos
quando conectadas em espírito pela matéria.
e as tuas árvores estão desenhadas no meu sistema nervoso
algo que só pode ser captado
pelo nervo óptico do terceiro olho.

pensei nos ponteiros, as flechas que alvejaram
e as setas que indicaram a direção.
demos mais uma volta em torno da estrela rainha.

gostaria de viver juntas
pois só sobre(vive) quem está só.

a gente se vê do outro lado:
seja na transparência do toque das mãos
ou pela nossa memória que sabe que também somos estrela.

- que haja espaço para o tempo -


28/12/2016.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

alhures

um conto que disfarço e a cortina que não abro
destila o veneno da cobra a carapuça que cabe
é pele
de cobra
a cobra abre a boca e sai de dentro da cobra
a cobra nova
alhures...

se entende se pulsa se quer que seja místico
porém desmistifica espaços em racionais assertivas
andas de propriedades biológicas e
diz que sabe quem é deus
alhures...

enquanto luzes acendem e apagam e há o abismo
estouro, enxofre, vinagre, ocre
tem gosto de vermelho e transparente ácido

um funcionário apático reclama do almoço no expediente
*TRASSSS...... BOOM*

o maquinário do relógio consumo não espera
quem não tem um olho dentro do olho que é dentro do outro
que sente que dói quando explodem crianças
que anda sem uma perna arrastado todo cinza
de construções inorgânicas
alhures...
e em quem não reverbera a surdez atômica momentânea
de quem o silêncio gélido não consome as entranhas
para quem o segundo que sentiu de frio não traz cordas
alhures...

aqui de correntes graúdas e tiros nos membros
aqui de olhos amarelos atentos ao ensurdecedor arsênio
aqui julgando que os condutores serão venosos
alhures?

a cobra abre a boca e sai de dentro da cobra
a cobra nova
e no chão a semi orgânica pele da cobra
diz sobre o abandono da dor da espécie humanóide
que transita com os três olhos fechados sonhando felicidade utópica

...alhures...