quarta-feira, 29 de agosto de 2012

VI

"Toc toc toc toc"
- Abra seus olhos, Augustine.
Assim dizia a voz dentro da menina, que acordava assustada tentando entender o que aconteceu.
Depois de percorrer os olhos trêmulos pelo quarto, deixou-se suspirar aliviada ao perceber que, talvez, tudo não passasse de um sonho.
Pintava sua realidade com olhos de sonho.
Do olho nasciam flores de artifício, que explodiam ao som do coraçãobumba.
A vida lhe circulava solar luz de neon internamente para mostrar-se-lhe externa como quadros difusos, complexos e borboletantes de paixão.
- Bem vinda a mais um dia da sua vida, Augustine.
Parecera ter ouvido do Universo.

domingo, 26 de agosto de 2012

[descobrir o mundo na jornada interior - I]

                                       considerações iniciais: "descobrir o mundo na jornada interior"
                                       trata-se de uma série de experiências que viraram exercícios
                                       transpostos para o papel com a finalidade de alcançar a paz em
                                       suas diversas formas.


I - sobre o relacionar-se amorosamente com o outro

"Abandone a idéia de que o apego e o amor são uma coisa só. Eles são inimigos. É o apego que destrói o amor." - Osho

"O amor é isso. não prende, não aperta, não sufoca. Porque quando vira nó, já deixou de ser laço." - Mário Quintana


descobrir a identidade do outro dentro das relações é justamente isso. o desapego (não o descuido) é um exercício muito difícil de ser alcançado plenamente, começa doloroso, mas, aos poucos, mostra seus admiráveis efeitos no coração de quem o pratica e de quem é atingido pela sua prática. é ter a consciência de que o amor é feito de momentos, e que, na condição de outro ser humano, o ser relacionado não pode ter as mesmas sensações, nem viver à sombra de nós. é continuar admirando a autonomia que nos conquistou pela primeira vez, é não condicionar o relacionamento a padrões falhos, tampouco se apaixonar pelo comodismo que gera o convívio e a posse. é continuar apaixonado pelo ser, com todas as virtudes e aprendizados do seu caminho. é perceber que amar é coisa boa, e que não deve vir acompanhada das amarguras do medo, se não, perde seu sentido. é calma, maturidade, prova de amor sincero e puro.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

quando pesa amar

amor maduro todo dia me amadurece
posse é sentimento que não me apetece
o que hoje carrego não traz medo do escuro
tampouco escreve nomes no infinito do futuro

mesmo assim me sinto suja,
algo tenta me impedir,
são as correntes negras do apego
que vem direto dos confins do alter ego
prontas para me engolir

passo noites esquecendo
o que no dia tenta me atingir
é exercício de gente distinta:
faz-se com papel e tinta
para acostumar-se ao "deixar ir"

bloqueio criativo, black out, anulação
zero auto estima, auto mutilação
quando pesa amar
quando pesa o mar
de amor sem explicação...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

fotografia de banho

o vermelho daqueles cabelos sangrou meus olhos de desgosto. não que já não soubesse o gosto que tem a tradição de "trair"; não há beleza na outra que se adorna de quem ontem me viu dormir. e é com imenso cuidado e sutileza que ele, em noites de calafrios, pega uma adaga e me acaricia a pele para cortar. não sei se me apeguei ao desespero que sinto ou se ao corpo físico, ou o que o valha. sei que é com navalha que ele me diz coisas bonitas sob a luz fraquinha, e diz que haveremos de nos separar. acho que escolhi o pior momento para me apegar. dor de tudo misturado faz liquidificador de sentimento, e num momento, tudo passa a ser inesperado. noite inteira com os olhos arregalados, até parece que me enforco ou me enxergo sufocar. não sei se ainda sou menina, e me agarro por medo de nada ter para agarrar, ou, pior de tudo, se esqueci do meu passado e reaprendi a amar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

e já passou

sou nobel da paz-ciência
dou aulas de decência,
de como não se importar

não tenho dinheiro nem talento
e o que fazer desse tormento
se eu quero viajar

não sirvo pra entreter
qualidade do meu ser
é a de me encantar

vou contando as histórias
repuxando da memória
me fazendo acreditar

(e se tudo é matéria palpável e sólida
como se explica o furor ardente
que tem a morena com a saia de roda?)



09/07/2012

XV

"bom dia, maio!" assim dera boas vindas a sua ascensão e queda.
queda antes. ultimamente um passarinho intruso vinha sendo muito melhor que conversas humanas vazias.
tantas horas de contemplação a renderam um grande amor pelo outono; sua calmaria, a instabilidade de suas folhas...
não pensava em suportar a partida dessa estação, estava apaixonada pela sua efemeridade.

no fim da estação disse a ele que a desse a mão. que confiasse, pois os caminhos dessa vida são bem menos sinuosos quando estamos acompanhados.
mas não havia certeza nos gestos dele.
queria dar-lhe a mão, mas não perdia oportunidade de olhar para trás e certificar-se de também ver outros olhos.
bonitos olhos estáticos.
de certo que, influenciado ou não pela estação, não gostava de estagnar-se. mas gostava daqueles olhos. talvez gostasse do modo incerto como fluíam os dela, mas não sabia se queria dar-lhe sua história.

de início, ela pensava em entregar tudo que era seu nas naquelas mãos delicadas.
depois, apesar da beleza singular de seus gestos indecisos, o encanto das mesmas foi-se transformando em medo
medo do homem e sua maldade. pavor desses de se esconder, de querer ir embora, de chorar debaixo da cama,
de temer até os olhos do amado...

transbordando flexibilidade, ouviu um barulho no alto de sua árvore preferida.
entendeu que naquele momento seria, então, feita a eterna união.
fechou os olhos, deixando tudo para trás, e amando outros caminhos, da vida já não queria levar mais nada que não o aroma, o vento nos ombros, as breves sensações de preenchimento...
pendurou-se como mártir no balanço, e no sopro mais forte do vento, voou com o outono e sua última folha.
horizonte, longe, quieto.



hoje e maio/2012

domingo, 5 de agosto de 2012

há de amar pra consertar

me disseste que fizesse algo lindo seu com nome forte
embrulhei-me na certeza de só pulsar pro lado norte
linda a vida amanhecida da janela do segundo andar
como é doce a partida de quem não quer deixar

palavras soltas desconexas não parecem me exprimir
queria escrever-te que por nada quero te ver partir
fazer soneto, rima boa, nada assim de tom banal
mas escrevo de amor puro e isso é coisa natural

realidade é incapaz de descrever peito que chora
você pra mim deitado de costas, a agonia do agora
como é linda toda essa confusão, o peito bate
o medo de reviver a dor antes que ela me mate

o ato que enfim une macho e fêmea, carne crua
como te amo quando me entrego intensa e pura
como me perco em teu cabelo encaraco-solar
e me sou de teu semblante tão lindo de olhar

mas não é só o que te quero dizer, então apago tudo
escrevo outras mil coisas que deixam longe o descuido
o presente presenteia meu corpo junto a seu gingado
bom dia, meu amor, acordei de novo ao seu lado.