quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

à claire de la lune

era clara e quente a noite do litoral
era Clara, quente acaso angelical
e branca a lua cheia
branca a fina areia
branca a menina na pele de sereia

encontro tão memorável
indígena e lusitana
num porto de pernambuco
remete à colônia inefável
cuja raça profana
em duas luas fez-se fruto

sentadas à beira-mar
o vento dançando em seus lisos cabelos compridos
arrepiei ao escutar -
Clara era atriz, e por isso dizia bem ao pé do ouvido -:

"Por que tens, por que tens olhos escuros 
E mãos lânguidas, loucas e sem fim 
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim 
Impuro, como o bem que está nos puros? 

Que paixão fez-te os lábios tão maduros 
Num rosto como o teu criança assim 
Quem te criou tão boa para o ruim 
E tão fatal para os meus versos duros? 

Fugaz, com que direito tens-me presa 
A alma que por ti soluça nua 
E não és Tatiana e nem Teresa: 

E és tampouco a mulher que anda na rua 
Vagabunda, patética, indefesa 
Ó minha branca e pequenina lua!"

e disse que parecia feito para mim.
ah, como amei os seus lábios carmim
mesmo sabendo que o desejo finda.
mas vem a poesia e eterniza assim:
deixei sua paixão desesperada e linda
junto à iemanjá, no seio de olinda.

refrãozinho para desengasgar

(não que me faça falta ou diferença, mas me atormenta o tino ouvir ciclicamente a voz de dentro repetir o refrão. essas coisas todas deixei no mar, mas eram pra ter sido cuspidas antes de encontrá-lo. então, apenas obedeço ao interior, e aqui jogo despojadamente um pensamento atemporal. ou antes, deixado no tempo.)


vá cantar com as gaivotas
que eu vou abraçar o mar

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

aprendiz da amar(te)

pra que esse enorme rebuliço?
sem respeito não firma compromisso.
o tamanho do mal que me causou
foi injusto pra quem tanto te amou.
eu sonhava e te dava o meu melhor
você, pra mim, o que tinha de pior
e eu querendo tanto acreditar
que nosso amor ia se perpetuar...

por que, meu bem?
não te dói também?

saber que havia tanto amor
que minha pureza você matou

por que, meu bem?
não te dói também?

saber-se pra alguém, tão especial
e fazer do infinito, mero mortal...
o que é a bondade travestida
ante à grande culpa de uma vida
tão vazia assim, sem mim.
te mostrei minha melhor parte
levei a tristeza na arte
mas pra você nada bastou...
um dia sei que se aprende
que a vida te surpreende
com a verdade que é o amor

por que, meu bem?
não te dói também?

crucificar tanta nobreza
e abster-se da beleza
que têm os homens de bem
...que só quem AMA tem.


(20/09/12. vindo a calhar exatamente)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

eu ávida

você áspero
me lembro de seus cachos
onde, cálida, me perdi
na sonoridade do solfejo
entorpecida de desejo
o olho estático preso em ti

você árido
carregava um nordeste
nas costas, na bandoleira
seis cordas de agreste
aura que brilha e enobrece
as alpercatas rubras de poeira

luz de sete furos no bambu
cheiro doce do doce de imbu
que no cerrado veio florescer

esconde léguas do meu apelo
quando o símile amanhece no cabelo
e o destino me obriga a anoitecer