era clara e quente a noite do litoral
era Clara, quente acaso angelical
era Clara, quente acaso angelical
e branca a lua cheia
branca a fina areia
branca a menina na pele de sereia
encontro tão memorável
indígena e lusitana
num porto de pernambuco
remete à colônia inefável
cuja raça profana
em duas luas fez-se fruto
sentadas à beira-mar
o vento dançando em seus lisos cabelos compridos
arrepiei ao escutar -
Clara era atriz, e por isso dizia bem ao pé do ouvido -:
"Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?
Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:
E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!"
e disse que parecia feito para mim.
ah, como amei os seus lábios carmim
mesmo sabendo que o desejo finda.
mas vem a poesia e eterniza assim:
deixei sua paixão desesperada e linda
junto à iemanjá, no seio de olinda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário