dei boa noite aos deuses do plano racional
e mergulhei em pensamentos desconexos
tudo anda meio convexo
dentro da sonolência humana.
penso: sou a dita cidadã padrão.
posso até despertar antes do despertador
mas jamais me levanto.
espero os sinos e trombetas da tecnologia soarem
para, pontualmente, acordar minha dor.
sempre quase desisto.
mas me visto
não como nada, e nunca esqueço o sutiã.
ele me abraça forte
e me dá segurança.
acordei mulher e nem me lembrava.
ainda carrego aquela inocência infantil
de acordar e existir sem muita complexidade.
pego um ônibus, oportunidade de meditação urbana.
lá respondo a perguntas confusas impensáveis
penso no mistérios e em ser assim, geminiana
e deito os olhos no cadarço de quem carrego a bolsa.
quando saio, sinto uma sensação de abandono.
tenho medo alheio mas enceno o personagem social.
em algum momento do dia me arrepio, tenho sede de caneta
penso que morrerei se não escrever.
no banho crepuscular me revoltei:
sinto saudade do mato
quero frio de planta molhada
e plantar e comer com a mão.
vontade de poder ser bicho.
me encharquei de sonho de abdicar ao tempo
e ao amar como ditam os livros de romance.
no rosado por do sol, tomei banho de azul
e me invadiu a pureza lilás.
no caminho de volta
clarividencio todo meu futuro.
senti a quentura da felicidade combinada à esperança.
não sou a dita cidadã padrão.
sonho com silêncio e muita paz
e carrego com urgência um buquê invisível de flores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário