segunda-feira, 11 de julho de 2016

Éter

Amor criador de distopias
Não importa quantos dias
Passei tentando matar
O ego romântico
Cristão elitista monogâmico
Branco cis heterossexual
Do capitalismo patriarcal.

Através da comunicação não-violenta
Você me trouxe a crença
De que ser coerente é ser revolucionário;
Num contexto arbitrário
A coerência difere da tua marca roxa
Na minha crösta
E a ausência de dias...
E se equilibrar frequência e responsabilidade afetiva
Não sobra nada de empatia
Arde a falta da escuta profunda
Minhas mãos imundas de tinta
E a parede sustentando um incompleto estandarte da agonia...

A cultura coletiva da tribo urbana
Floresce para a sedutora desconstrução;
Enquanto que ao me relacionar contigo
Aprendi muito mais sobre autodidatismo
Do que da liberdade individual humana.

Sustentei de forma experimental
A solidão do submundo existencial
Porque sou loba que uiva pra lua;
Transito plena entre as feras
Mas volto com o rabo entre as pernas
Quando você me aciona.

No abismo dessa alquimia
Tu crês que basta a costura
Feita consentida com linha escura
Sobre a bagagem da minha pele de bruxa.

Sou intensa e livre porque sinto e me permito;
Mas no limbo da libido
Toda noite fortes doses de veneno
Minha auto defesa em desespero insurrecto
Para engolir, digerir e vomitar
O amor escravo do ego.

Em que difere o libertário machista
Da lógica fascista por ti tão combatida?
A violência sistêmica
Me aponta como histérica
Enquanto você exerce sua "conduta não-coercitiva"

Apesar de abraçar a sua dor com ânsia
Apesar de estarmos a janelas de distância
O seu estar instável e apático
Indiferença, falta de cuidado
Seu amor "autogestionado"
Sangram meu peito em anomia

Mas ninguém nessa cidade (será?)
Ouviu tuas frases
Que da morte traziam vida,
Que da noite teciam o dia...

Quando a força é ser vulnerável
Onde anda aquela sintonia
Que nos uniu no gênesis da supernova?

O universo que orbitamos em um verso
Somos o void ecoante reverso
Dois pontos auto-atraentes
Resistindo às cicatrizes aparentes
Em algum lugar do cosmos
Entre o nadir e o zênite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário