quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

necrofagia

a dor desanda
descompassa
desequilibra
a dor desanda
o peso nas ancas
a face ferida
a dor fustiga

a dor, semente
cresce rapidamente
destrói minha casa
enraiza o chão
onde eu plantava

a dor gigante
maior que um prédio
de dez andares
é a dor criança
grita os pesares
buscando um nexo

hora menina
hora moça
hora senhora
a dor faminta
tem muita força
consome o agora

e a poesia, coitada
jogada em escanteio
são só folhas rasgadas
alguns símbolos no meio

testemunhando
a dor mortal:

ontem morri sonhando
hoje comi meu cadáver matinal

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