tenho toda a estrutura poética para te escrever a grafite os mais métricos versos mas me recuso a organizar meus pensamentos de tal forma que fiquem elaborados e documentados meus sentimentos por você é como torná-los materiais através da palavra e eu não posso e não quero e isso seria um desastre mas concomitante urge o desejo de te escrever e o máximo que eu posso te dar agora é meu fluxo de consciência completamente caótico e brilhante radiante cintilante como se pudesse sentir o clique das sinapses iridescentes que tudo isso me causa e caralho hoje eu chorei por você? não não foi não posso aceitar que tenha sido os últimos dias foram um turbilhão nas minhas costas entre o gélido inox dos laboratórios desviando de vírus de ambos os lados e as cinzas de cigarro deixei a casa como um cenário gris de repouso provisório e de dentro do tambor prata sob o acrílico transparente as roupas lavadas estáticas contemplavam o firmamento ciano sonhando com a brisa que embalava a atmosfera e com o crepitar dos raios de sol atravessando suas tramas e as tirando aquele fardo úmido de existir em entropia por tantos dias sem interseção que não o tempo e tanto quanto pôde o compasso do relógio até que o cheiro sintético de flores campestres vira um odor chumbo esverdeado como um amontoado de bolores e esses dias me ocorreu que mesmo fungos decompositores são vida da mais pulsante e carregam vários segredos da própria vida da cura e da morte e isso diz tanto sobre a nudez que eu me encontrava sem saber o que vestir e o níquel daquela ficha de bilhar perdida no jeans encardido ainda me intoxica com todas aquelas palavras-flecha ditas sob a névoa de uma madrugada de maio com um gosto tão duro e complexo quanto o impasse moral de eu e você
sábado, 6 de maio de 2023
terça-feira, 2 de maio de 2023
ultramarino
noite passada fazia frio de madrugada de cerrado e a mesa azul de boteco parecia tão linda lazuli bem mais profunda que seus olhos caleidoscópicos também tão bonitos mas nunca de fato ali uma pausa uns silêncios e seus olhos sempre sempre sempre me mirando fortuitamente e em quase toda oportunidade e eu fingindo não ver não querer ver não querer interagir com a escolha que fiz de ficar na sua querer saber sobre você e pensar em você pra me salvar de mim e dele e eu não quero falar dele mas não posso deixar de imaginar como se não houvesse ele comigo mas a manhã também veio celeste gelada brilhante cortante como o mirar dele deitado das lembranças dos intercursos com o corpo dele com o jeito forte escarlate dele em oposição simétrica com esse seu azul tão leve de ninar e o toque frustrante sutilíssimo delicado corroborando meus medos e inseguranças de não ser nada do que você queria e sim um acidente que você ebriamente acabou deixando ir longe mas não tão longe para ambos de nós porque faltou algum tempero e o meu maior medo de todos é que o amor adulto seja sempre insosso e o índigo blusão seja o mais próximo de um cheiro de casa que possa existir mas nossa como a sua casa fazia barulho um barulho bem parecido com o da sua cabeça que a sua serenidade não deixa transparecer mas eu vi e eu pensando depois de tantos anos vai ser bom e diferente e até foi mas num sentido completamente oposto ao que eu precisava não sei o que fazer pra ter o que eu preciso e de novo o medo de não existir o que eu preciso e eu ter que lidar comigo no espelho e todas as arestas que deixei mal acabadas e ia dizer apará-las mas talvez eu tenha de dilacerá-las desde a raiz e plantar outra coisa nesse solo que me ensine a viver comigo mesma uma eu que não se apaixona e cujas borboletas do estômago fizeram um processo autóctone de se encasular na clausura de si mesmas abdicando de asas de voos e de paisagens cobalto