tenho toda a estrutura poética para te escrever a grafite os mais métricos versos mas me recuso a organizar meus pensamentos de tal forma que fiquem elaborados e documentados meus sentimentos por você é como torná-los materiais através da palavra e eu não posso e não quero e isso seria um desastre mas concomitante urge o desejo de te escrever e o máximo que eu posso te dar agora é meu fluxo de consciência completamente caótico e brilhante radiante cintilante como se pudesse sentir o clique das sinapses iridescentes que tudo isso me causa e caralho hoje eu chorei por você? não não foi não posso aceitar que tenha sido os últimos dias foram um turbilhão nas minhas costas entre o gélido inox dos laboratórios desviando de vírus de ambos os lados e as cinzas de cigarro deixei a casa como um cenário gris de repouso provisório e de dentro do tambor prata sob o acrílico transparente as roupas lavadas estáticas contemplavam o firmamento ciano sonhando com a brisa que embalava a atmosfera e com o crepitar dos raios de sol atravessando suas tramas e as tirando aquele fardo úmido de existir em entropia por tantos dias sem interseção que não o tempo e tanto quanto pôde o compasso do relógio até que o cheiro sintético de flores campestres vira um odor chumbo esverdeado como um amontoado de bolores e esses dias me ocorreu que mesmo fungos decompositores são vida da mais pulsante e carregam vários segredos da própria vida da cura e da morte e isso diz tanto sobre a nudez que eu me encontrava sem saber o que vestir e o níquel daquela ficha de bilhar perdida no jeans encardido ainda me intoxica com todas aquelas palavras-flecha ditas sob a névoa de uma madrugada de maio com um gosto tão duro e complexo quanto o impasse moral de eu e você
Nenhum comentário:
Postar um comentário