quarta-feira, 25 de abril de 2012

(desaba)fo

não sei se é vontade de morrer sem alarde, numa tarde silenciosa
ou se é de escândalo, agir como vândalo, me pintar cor-de-rosa

(etílico elíptico epilético epicentro espiral escancarado na epiderme)

quero deixar o corpo jogado, procurando pecado na vida
escrever minha oração com calma, amenizar a alma já carpida

(vulnerável como verme vento versos vícios)

da janela degradável, vê toda essência em forma mutável, incessante
do preto do olho surge, assim como a fala urge, a imagem dissonante

(irremediavelmente inacabado)

sábado, 21 de abril de 2012

O Peso da Idade...

Não avançada, nem nada
Mas a idade que delimita
Uma proximidade
Com a cara escancarada
Da vida.

Dói não ter mais pipas
Ou barquinhos no chuveiro
E doem os caminhos
Que ainda não são os derradeiros.

A insegurança como um soco
No coração que está oco
De um espírito condoreiro.


16/03/2012

Engatinho

De quatro pela casa
Tentando alcançar
Minha pequena fera.

Hein, gatinho?
Achei tê-lo ouvido
Rir do meu desatino...
Nos engatinhamos
Do verbo Tornar-se Felino
E a cada olhar que me dirige,
Mais me fascina o pequenino.


16/03/2012

domingo, 8 de abril de 2012

XII

Ardia.
Precisava desvencilhar-se da imagem da carne daqueles lábios.
Ardia.
O dia escancarando a sua supremacia e a água quente descendo como um rio da panela esquecida.
E tudo ardia.
A brisa fria que despedia-se junto com a madrugada carburava o cigarro entre seus dedos por si só. Apreciava àquilo com tanta devoção, como sempre a fascinara o fogo em seus múltiplos aspectos.
Passava os olhos pelas páginas, mas tudo estava turvo por toda espécie de fumaça que enchia a casa de calor.
Mas faltava. Faltavam aqueles lábios...
Pegou o telefone, colocou-o na orelha. Súbito lembrou-se que não tinha a quem ligar.
Exitou. 
Mas mirou a janela e deu-se conta de que era inverno.
E não há espaço para colapsos numa terça feira.


25/03/2012

VIII

Paralelo ao firmamento estavam aqueles belos olhos azulados.
Não proferia palavra. Parecia que tudo à sua volta era alheio aos pequenos planetas aquáticos que orbitavam contemplando a relva daquele quente dia de março.
Ao meu lado haviam dois gramados verdes na  forma dos olhos do outro.
Dois perfeitos girassóis nasciam de sua pupila, no fundo verde forte de seus olhos.
Quis exitar. Mas os girassóis me contemplavam. Fiquei com eles.
Já que o planeta cujo meus olhos lunares orbitam, habita um outro corpo.
Raízes.


02/03/2012

X

Parou, olhou para o copo com enorme repulsa. Um inseto de listras amarelas.
Como poderia não ter percebido aquele gigante ali dentro?
Como em toda a sua vida, o copo estava meio cheio.
Quis beber. Digo, não o gim, nem o inseto, mas o copo. Tudo andava tão líquido...
Parou e ouviu uma voz. Seria aquela voz? Titubeou um pouco antes de dar-se conta que não era real, nem imaginário; de fato, o inseto estava falando com ela.
De repente estava pálida e atônita.
Arremessou o copo o mais longe que pôde.
O dono do café não gostou da cena, mas não se manifestou.
Ela, por ela mesma, levantou-se e sorriu meio débil. Há muito não se sentia tão infantil, e tão liberta.
Andava pelo Passeio Público.
Se espantou ao ver, meio a tanto líquido do lago, o inseto caminhando sobre a água.
Todos os seus fluidos corporais, naquele momento, a escorriam pelos olhos.
Apenas calmamente.


13/02/2012