quarta-feira, 26 de novembro de 2014

XLIII

me perguntavam sobre a minha força e eu só via a forca e o véu da ilusão. já de antemão digo que preciso, e só vivo se respiro de fato quem eu sou. mas de fato, aonde estou? eu acordo e amanheço a lua, mas mesmo bela e nua insisto em vestir. estranho. por que feliz me acanho e me fecho dentro de mim? tanta água nos meus olhos quer cair... tanto abraço que disfarço e o sorriso que não abro e as flores por colher... faz doer. peço a deus diariamente a cura para uma mente que costumava ver estrelas. se escolho erradamente é como quando planto as sementes e esqueço de colhe-las. não as colho para mim e fico com gosto assim, de vontade de viver. dou um salto no infinito e lembro que o mais bonito é viver sem perecer. meu espírito solto precisa de amor. amor, coragem e encanto. enxugo meu pranto, pego a caneta e derramo tinta.
e de forma distinta, ainda que calada, escrevo poesia pra cobrir a madrugada...

10/14

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

La loba

Uiva, vento, uiva
Uiva e canta um mistério para mim
Eu que tantas vezes permeio o fim...

Trancei meus cabelos com o fio da vida
Calcei meus pés com a força da rocha
No ventre trouxe a rosa
Das fêmeas esquecida...

Com as mãos teci os rios
Rogando, fio por fio
Para que Deus não esquecesse de nós
E com a mão que fiz, desfiz os nós

Do véu de ilusão que encobre a mulher
Da beleza perigosa que esconde a fé
Porque Deusas amanhecemos
E Deusas nos deitamos

Luz palpita no meu seio
Amuleto no meu peito
Se é pela lua que conhecemos
E por amor que recordamos.

Uiva, vento, uiva
Abençoadas estamos.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

são chico




quando eu canto minha mente decanta
e a poesia se encanta do meu coração

são francisco de assis é quem pode me entender
se vivo infeliz e com gente não sei viver
é que carrego no meu dorso um amuleto animal
e me agarro com força na raiz do ancestral

quando eu canto minha mente decanta
e a poesia se encanta do meu coração

sinto falta de família e fico na vigília esperando salvação
mesmo uma desgarrada filha que não tem religião
eu trago a misericórdia e fui feita de compaixão
por isso que são chico é meu pai em oração

ah, por que não?...

se quando eu canto minha mente decanta
e a poesia se encanta do meu coração

se quando eu creio minha alma incendeia
e a chama clareia toda a escuridão.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

XLI

eu queria me lembrar do que sou feita. então ascendi terra. e da terra fez-se uma floresta encantada com uma rocha impenetravelmente protetora.
eu queria me lembrar do que sou feita. então afoguei-me nas minhas lágrimas contidas e lembrei que água é tudo aquilo que transborda o endógeno.
eu queria me lembrar do que sou feita. sei que essa frase feita parece consumir. mas nasci. nasci mineral e elemento, viva da natureza mãe que me criou. sou cria um tanto quanto aérea e dual na dança do horóscopo...
e fogo que arde, nada. esperava uma combustão de apenas quatro elementos, mas o fogo faz falta para aquecer um coração ancião...
olhei nas linhas da minha mão e teci um mapa que me leva até as linhas da minha corrente sanguínea, que me leva ao meu dna.
alguém teceu um código tão rico que hoje sou o que já fui desde o início dos tempos.
é carne o que me representa.
mas o espírito que ultimamente anda velho e cansado, orbita. orbita, permeia, perpassa e enlaça sutilezas nesta amada Terra. o espírito se deixa guiar os dedos para que se escreva (de acordo com nenhuma tradição poética) uma oração que se desprende de mim como redenção e alívio.
o quinto elemento que me compõe é isso. o indescritível. que é o elemento final que compõe todo esse espetáculo que diariamente acompanhamos. não saberemos. não aqui. não agora.
esta é a grande poesia.
me lembro de escrever apenas quando o coração fica tão pesado que é um movimento necessário de salvamento. escrever sobre o lamento parece imperar sobre a alegria.
mas carregando uma tormenta de noite e de dia, é que me lembro de escrever poesia.
nasce de mim a reza crua e cíclica, vem de água densa molhando a terra e no ar fica rarefeita.
ela também quer se lembrar do que foi feita.

terça-feira, 1 de julho de 2014

in flor-essência

a dor é uma fonte geradora.
avisto flores transparentes rodopiando gentilmente soltas ao vento
como a morte parece dizer sobre o véu da vida
como tempo impõe cada despedida
como resisto calada às intempéries de dentro
a dor é uma fonte geradora.

se ainda resta poesia, ela está em minha garganta
e entoa apenas mentalmente um velho mantra
cuja esperança pequenina ainda dança
de mãos dadas com as flores da vida, tão vívidas
de cores fluorescentes e pulsantes.

não é nem cinza porque cinza é cor e cor são olhos
- e olhos estão vivos -
é ainda um nada inominável onde tudo parece dar
vazio de tudo. não há.

um sonho de presença, segurança e amparo
- esse é de olhos fechados -
um sonho de outra existência
eu que da Terra conheci tantos mestres
com suas verdades num plano de fundo impecável

de folhas verdes como é verde o que nasce
e todos os seres vivos são marrons.
vida de formas diversas coexistindo em amor
bom dia, Deus!
que céu esplendoroso mais um dia...
- mais um dia -
ainda ando, falo e respiro
e o ar me envolve gentilmente os poros arrepiados

o que é isso, afinal?
eu nasci em palavras e nelas me expresso
e sempre fiz caber palavras em cada olhar atento
eu que agora me pego rendida
- não há mais o que dizer!
todas as palavras já foram ditas...
palavras são homens. Deus não tem idioma.

um sonho de dissociar-se desta realidade
suspensa pelas mãos divinas no manto eterno
ontem, hoje, amanhã, não quero
apenas ter o nada porque o nada é paz e há.
o nada impera sobre o tudo.
a dor é uma fonte geradora.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

ruim

se eu morasse em mim
sua morada seria
e em mim você repousaria
e se agarraria ao tom carmim

se eu morasse em mim
seria algo fêmea
e não estrela efêmera
a oscilar assim

mas isso só se eu morasse em mim...

pegaria seus olhos de chama
e acenderia uma tocha
diria o que a alma reclama
da densidade da rocha

que te petrifica o fogo
e me purifica a água
eu entre um mar de mágoa
e o barco do repouso

"algo depura ou intoxica"
me lembro da fruta cítrica
morta sobre a bancada
teus olhos perdidos na sala...
toda aquela fumaça...
que constantemente me abraça
me despe e despedaça.

...e eu não me deixaria beirar o fim.
mas isso só se eu morasse dentro de mim.


12/05

sábado, 19 de abril de 2014

XXXIX

rir com ele... por que não...?
parece haver uma barreira intransponível entre dois mundos que ela também não sabia se queria misturar.
as escolhas carregam um peso bruto total.
e nessa escolha não cabia mais nada além da enebriante fumaça densa de uma tonelada por metro cúbico.
de que valem dois olhos de incêndio?
ela estava enebriada pela fumaça.
até a lua era cheia e vermelha, mas nela tudo míngua.
um sonho de pessoas desconhecidas que se amavam. se amar é tão deus.
ela mantinha-se de pé no inferno.
e nem o inverno faria o outono, o karma, o sangue, o carmim cessar.
porém, se ela fica, morre.
morre dos botões de flores que não ve, ou de não dormir envolta nos véus de estrelas e no grande manto do divino,
e da ausência do riso...
aquele que suspende a névoa no espaço e encanta o entrelace dos dedos que as almas que caminham juntas precisam se dar.
alaranja
e cai.


15/04/14

terça-feira, 18 de março de 2014

MAP

today i have to say
tudo que  passei
que ceguei, que calei
my body on the way

Médio, morno e animal
Ando louco e amoral
Procuro o espiritual

a map doesn't tell it all...

une carte por moi would tell
something like un amplificateur

A ordem é trocada
Mas a palavra preservada
Por ser assim, sagrada

e eu, tão de mim abandonada

dios, a ti me quedo sin razón
je ne sais pas faire une chanson
of love in its true dimension

sé que me muero por las noches frías
e acordo viva quando nasce o dia.

uno, dos, trois
hei de tentar.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

XXXVII

olhei seus olhos de buraco negro.
amor desprendido aprisiona.
eu me joguei para nadar no escuro dos seus olhos
através da transparência daquele cristal.
qual é o mistério que tu guardas?

...
- silêncio -
...


12/02/2014

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

XXXV

ela e o sonho contemplavam o céu.
e o mundo só já era pouco. todo o universo e o que há além pesavam-lhe as pálpebras e o sono não vinha.
"por que há consciência se não podemos saber?"
ela queria saber.

"o ser humano perdeu, em algum momento, a conexão telepático-transcendental com tudo que existe, mas eu não escolhi assim" - ela pensava.
sofria porque todos os demais seres eram canais do infinito, sofria porque todas as coisas eram interligadas e formavam uma unidade da qual ela se sentia pulsantemente participante.
e por isso, acima de tudo, sofria
ela não escolhera ser humana.


24/01/2014

XXXIII

- os elementos agrupam-se, contraem-se, expandem-se diferentemente e formam tudo que existe. cada criatura é absolutamente única.
o professor falava. ela gostava de ouvir essas explicações.
um dia respirou fundo e perguntou:
- e o que sobra quando tudo acaba?
todos calaram.
ela sabia.

"estamos numa condição dinâmica"
foi o que guardou.


24/01/2014

domingo, 2 de fevereiro de 2014

equilíbrio

paira a energia criadora, cuja força motora
desce em forma de mulher.
ela é.
azul cintila seu corpo no infinito
do reflexo mais bonito
o nu como se é.

reza a lenda que o cosmos, enamorado
deu a ela um recado
para não se esquecer:
- eu te fecundo em verde ancestral
e te será natural
parir para viver.
te darei leis, o leste, o oeste, o norte e o sul
mas também a água azul
para te cobrir.
será teu manto, meu encanto, sua casa
e apagará a brasa
que tentar te destruir.
teu nome é gaia, minha musa em esfera
e na tua atmosfera
tudo passa a existir.
o último sopro é um ar de nada denso
que te mostrará o tempo
o passado e o porvir.
para que não fiques tão sozinha
te darei em companhia
um casal amigo meu:
a moça é bela e há de se chamar lua
pois também está nua
e é mãe como você.
separei-a do seu par, o grande sol
mas tudo foi em prol
do dia anoitecer.
e dentre os mais incríveis animais
um há de se destacar mais
pois tem algo a aprender.
e é aí que entra teu sacrifício
pois ele fará o ofício
de destruir para criar
e o bicho homem contemplará o céu
mas escolherá manter o véu
que o impede de enxergar.
para enfeitar te empresto as estrelas
tua perfeita natureza
poderosa e onipotente
e ao homem darei uma realidade
que ele julgará verdade
da "mente consciente"
e há de clamar a mim quando doer
mas um dia há de aprender
a também equilibrar.
e assim também não fico tão sozinho
ao contemplar o homenzinho
a me contemplar.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

dilata

a cara e a vidraça
a carne e a couraça
me encorajam de novo a ser mulher

do busto me arranco
e rebusco nos flancos
o poder de vestir a face que quiser

hoje a noite é de lua nova
quando o cosmos põe à prova
a força da loba que caça

só merece a lua cheia
o corpo que se incendeia
com o fogo que arde e mata.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

gratidão

hoje eu amei de novo a minha casa
recolhi meus cacos pela estrada
e construí um vasinho de vitrô

hoje eu amei de novo a minha casa
descobri que sou peça rara
e que é intensa a minha flor

hoje eu respirei bem fundo
o ar que deus me deu
hoje eu redescobri o mundo
e percebi que tudo tem sua hora
que o milagre também sou eu
e que o tudo é aqui e agora.