segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

vermelho

ainda bem que o meu santo é forte
me guia sempre pro norte
é, eu tive sorte

ainda bem que me fez assim, amor
superador de toda dor
o dom do calor

pena pra você não se entregar
sucumbir ao seu próprio ego
eu tô nas mãos do pai, no ar
você, prego. eu, sobre o teto

pena pra você me machucar
a destruição é o seu espelho
eu vou levar, leve a navegar
a cor do amor, que é vermelho

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

XXV

a criança irradiante brincava no lago dos cristais
o lago irradiava dentro da brincadeira das crianças cristal
os cristais eram crianças e irradiavam lagos ao brincar

tudo era transparente e iluminado
tlin, tlin, ploc, tlin...
brilhava e caía
se misturava com o tudo e o tempo
o tudo era amor
e o tempo...
transparente e iluminado

XVII

- eu apaguei a centelha
- você está delirando, não pode ser
- apaguei. pisei com toda a força de mundo que tinha
- pés são pés, não mundos!
- os meus são imundos. mundanos. ainda bem que me levam pelo mundo, e que tanto mundo levam sobre eles.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

paz na terra e amor aos homens

respiro fundo e direito
um, dois, três...
e aquilo que não tem jeito
aqui não tem vez!

sorte vem com fé e calma
e lá nos confins da alma
juntos haveremos de encontrar
paz na terra e amor aos homens
sermos sábios como monges,
manter o dom de se encantar!

amar não dói, creia
é que a gente esquece como amar...
mão colhe, mãe semeia
ser criança é dom de purificar

vem mãe, irrigar minha consciência
e de todos os meus irmãos
vem mãe, ensinar sua ciência
pra essa nova geração

esqueça o "eu", esqueça o "meu"
o futuro já está mais próximo!
é hora de ensinar o que a gente aprendeu
o amor é tudo e ele é todo nosso

babylon bye bye

levo uma vida sem sentido
perdida no meu umbigo
e na ponta do nariz
será que já fui feliz?

o mundo se acabando
a crise nos engolindo
comida rápida bulindo
capitalismo inaugurando

e eu na minha cápsula-arma
remoendo dor de cotovelo
(ou de coração?)
dói o estômago (da carne)
o fígado (do ócio)
consórcio
entre o cabelo
e o padrão

cansei de mediocridade
dessa insalubridade
cansei de me arrastar.
ou deus leva a modernagem
ou eu pego minha bagagem
e deixo o eterno me levar.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

passo

passariam as coisas inutilmente
e inutilmente calçariam-se os sapatos
as corredeiras, cordilheiras e os espaços
mudam para o nunca e constantemente
passariam passarinhos e meus parentes
e tudo segue para o desembaraço
só não passa o coração da gente
que sempre há de querer ser pássaro

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

morphos

(e encaracolei-me em casulo eterno:
o que pulsa no interior da pedra
também é pedra).

ígnea
igual mente
mag nífica
mágica
ama temática
intemporânea
sedimentar
supralunar
suplementar
super ar
sub
ser/ estar
metamórfica
meta morta
mente-horta
catas troficamente
assim; do latim
morphos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

XXIII

- mas você não tem o direito de reclamar. em nada. em suma, em nada.
- não estou reclamando - retorquiu a moça, ainda que em sua mente pulsasse o desespero das semanas anteriores, e a vontade fosse chorar de raiva e dor.
- reclama, e eu o vejo. vejo suas palavras crepitarem e é coisa indevida, visto que nada temos de concreto.
assim via claramente a situação.
ela sentia desfalecer. meu deus, o que haveria de ser concreto entre esses malditos homens? qual tabuleta cravada a ferro e fogo estabeleceria entre as relações humanas o mínimo respeito? nada. haveria o praxe de todas as conquistas, os mimos, o comportamento admirável... e a facada no momento inesperado.
a moça sentia tamanha absorção nessa condição que era mesmo difícil o que se lhe afigurava. por que haveria de sentir esse descontentamento? pensou por várias vezes ser culpa dela própria, que ciúme não é coisa pura, mas depois lembrou-se que também era da espécie do homem, só que mulher.
e o homem, o homem é falho...
ela queria atinar para o fato de tudo ser normal, mas não conseguia, por enquanto. embora aceitasse muito bem o caráter efêmero das coisas, o que dói, dói, e a mais magnânima das criaturas, se viva, sente doer.
por hora achou que era melhor esquecer todo aquele absurdo.
de fotografias de banho, acompanhadas ou não, adeus. e de vermelho, agora, só o vinho que a esperava em qualquer esquina da cidade.
saiu de casa no momento que vos falo, e sentiu que toda sabedoria humana ainda não alcançada, em todos os aspectos, proveria-se de desligar o computador.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

XXI

só deus sabe o que se passou naquele minuto em que ele estava em transição para o sono.
fortemente entrelaçados, havia uma aura diferente.
eu olhava-o, e olhava para dentro de mim,
e do meu olhar faiscava tamanha paixão que não cabia mais no peito.
"o que está acontecendo comigo?" me perguntei.
e alguma coisa dentro dele ouviu àquela pergunta.
ele acordou suavemente, me olhou nos olhos e sorriu aquele sorriso infantil.
...como é indescritível aquele sorriso.
e em um milésimo de segundo travei uma luta imensa entre razão e emoção.
eu ia transbordar.
eu ia falar.
eu precisava dizer "eu te amo".
mas tive medo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

prego olhos às oscilações mais sutis
ando floreando amores primaveris:
como o caso do passarinho cantarolante
que assim traz à vida ensolarado instante

e como é querida a dor dos amantes
que encontram-se entorpecidos pela estação
é coisa mais linda o instinto clamante
que a natureza regojiza em sêmen e fecundação

eu mesmo, se não fico atento
misturo-me ao pólen do vento
se passa que o elo nos chama de novo:
"saiam dessa vida cinzenta, meu povo!"

e dentro do mais cético, é operada mudança
vira novo o que era velho, ancião vira criança
o vazio ganha verde de primavera e esperança
o que então era estio, se aflora em abonança

e eu, expectador desse milagre, me pergunto
se ainda possa haver quem duvide disso tudo
que nome tem, esse tão perfeito conjunto?
é senhor da primavera, o tal do amor agudo!

ao mestre rimbaud




quisera correr de novo os verdes prados
que se abrem cheios de um mel risonho
quisera ir sem mais carregar nos braços
o inverossímil que faz abnegar o sonho

pelo amante tocara os finos dedos
em diversões tão fúteis quanto o absinto
ou por vezes fingira não ter medos
incutia-lhe a tenacidade o velho tinto

dentre penas e pernas criara tanto
o filamento tênue que envolve a loucura
correra, enfim, livre à céu e terra

e quanto mais lhe envelhecia a cura
mais convicto abdicava à pena:
encontrara no índico saudoso recanto.

o querer-te e querer-te mais

Incontentado

Quando em teus braços, meu amor te beijo
Se me torno de súbito tristonho
É porque as vezes com temor prevejo
Que esta alegria pode ser um sonho

Olho os meus olhos nos teus... Ponho 
Tremulo as mãos nas tuas mãos... e vejo 
Que és tu mesma que és tu! E ainda suponho
Ser enganado pelo meu desejo...

Quanto mais desvairado de ansiedade
De teu corpo meu corpo se avizinha
Mais de te, junto a te, sinto saudades...

E este suplicio atroz não se adivinha,
Quando beijando-te, o pavor me invade
De que em meus braços tu não sejas minha.

Martins Fontes


à menor presunção de outro enlace
me abrasa chama desesperadora
se me deixas, me causas um desastre
mas se ficas, me tens encantadora

às vezes esqueço a vil possibilidade
e a mim, me cobre nova atmosfera
vivo que és meu, e não vã metade
e nossa face se afigura mais sincera

ah, se soubesses o quanto me recrio
esqueço mesmo tudo que me consome
e mostro-me a ti fluente como um rio

como respeitando o peso do teu nome
e se hoje me demonstro por um fio
amanhã de sorrisos tenho fome.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

o causo do pescadô

ô seu doutô, eu tenho calo nos pé
   o muié
   cadê o almoço?
   é tanto arvoroço
do que eu nem sei que que é

ô seu político, eu tenho dor nos cotovelo
   ô carroceiro
   sou catador
   te cato as dor
que vem do dinheiro que leva o lixeiro

   ê gente boa, se tu vê de sorridência
gente pobre sofre
rico enche os cofre
   e diz que é pelas tal das ciência

   ê que eu não queria não, gentileza
sentí o sol
sê o anzol
   que pesca a o peixe da tua mesa

me jogaram no mundo
só sei que nasci:
   aonde, de quem, quando
nunca descobri
e nem fico procurando

posso encontrá coisa ruim
nasci, já me confromei:
   sei que hei de morrê assim.

sábado, 13 de outubro de 2012

passagem para a eternidade

sentir a retração de cada músculo do corpo
o arrepio ao comprido que parece não cessar
os olhos enchem de lágrimas, vão transbordar!

o corpo se derrete e se mistura à forma una
os olhos percebem, palavras interpretam o instante:

fotografia do universo eternizada na estante
um pedaço do coração de quem escreve o momento
se desprendendo para o mundo a cada letra escrita

de repente, o poema se mistura ao mistério da existência!

não é mais meu
fui só um veículo
que sentiu
e transmitiu

o poema já morava aqui!
...e há quem diga que não viu...


11/10/2012

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

amada flor



junção de tempo, paciência e expressão de amor
é a mais linda criação da natureza, amada flor
detentora de toda beleza da expressão solar
derrama suas pétalas de raio e vem me iluminar

jah bateu na minha porta quando te encontrei
disse pra mim em sonho e o sonho eu decorei
seu sorriso vem e enfeita a parede da memória
o amor que cresce muda toda a minha história

fruto das coisas mais lindas colhidas com apreço
dada pelas suas mãos que semearam o começo
e eu que me perdia acreditando me encontrar
descobri o que era lindo quando te vi irradiar

junção de tempo, paciência e expressão de amor
é a mais linda criação da natureza, amada flor
detentora de toda beleza da expressão solar
derrama suas pétalas de raio e vem me iluminar

então a chuva vem e purifica nosso infinito
só quero te dar o que houver de mais bonito
vamos levando a vida assim na boa vibração
que o que vier será presente de luz e gratidão

toca aquela música pra mim, enche tudo de amor
transbordo de alegria, e pra mim é eterna a flor
se morre a forma física, fica intacto o laço
encontrei a essência da paz em seu abraço

junção de tempo, poesia e expressão de amor
é a mais linda criação da natureza, amada flor ♥

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Tecido Arte

Não tenho medo de viver da arte.
O que me causa medo é a sua consumação
Que consome minha ação
Que, em suma, é encantar-se

Medo me dão as saias da arte
E em quantas léguas de suas pregas hei de perder-me
E em quantas de suas anáguas hei de encontrar sentido
E em quantas de suas rendas hei de descosturar-me...
Desconstruir-me.
Construindo, assim, o dia, a noite, a verdade dos homens.

O que me causa pavor não são as belas artes
São, ainda, as artes cruas
Em que cada ato é um desensaio, um devaneio, uma ascensão

É como temor de sentir-se contemplado
Por contemplar tamanha beleza,
Que, nem os vértices dimensionais de espaço ou tempo
Ainda que espremidos e sugados
Possam contar do infinito dessa moça...

Ah, bela moça arte, arte moça, artimanha
Sinto-me uma presa
Perdida na beleza
Do seu tear de aranha...

terça-feira, 4 de setembro de 2012

apenas um ponto

um ser que atrai a confluência de todas as energias transitantes
onde a absorção de toda convergência consome os instantes

a vulnerabilidade tem cheiro de carne fresca para quem disso se alimenta

esperança e força permeiam toda a extensão da confusão mental
não sei o que me move, nem pra onde, nem se é tudo natural

o ser biológico grita expressivamente externalizando a dor da abstinência

me agarro em mim na loucura febril que consome as madrugadas
sou minha própria salvação do ser que em mim fez sua morada

o ponto que oscila entre dois polos
o delírio que transpiro pelos poros

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

VI

"Toc toc toc toc"
- Abra seus olhos, Augustine.
Assim dizia a voz dentro da menina, que acordava assustada tentando entender o que aconteceu.
Depois de percorrer os olhos trêmulos pelo quarto, deixou-se suspirar aliviada ao perceber que, talvez, tudo não passasse de um sonho.
Pintava sua realidade com olhos de sonho.
Do olho nasciam flores de artifício, que explodiam ao som do coraçãobumba.
A vida lhe circulava solar luz de neon internamente para mostrar-se-lhe externa como quadros difusos, complexos e borboletantes de paixão.
- Bem vinda a mais um dia da sua vida, Augustine.
Parecera ter ouvido do Universo.

domingo, 26 de agosto de 2012

[descobrir o mundo na jornada interior - I]

                                       considerações iniciais: "descobrir o mundo na jornada interior"
                                       trata-se de uma série de experiências que viraram exercícios
                                       transpostos para o papel com a finalidade de alcançar a paz em
                                       suas diversas formas.


I - sobre o relacionar-se amorosamente com o outro

"Abandone a idéia de que o apego e o amor são uma coisa só. Eles são inimigos. É o apego que destrói o amor." - Osho

"O amor é isso. não prende, não aperta, não sufoca. Porque quando vira nó, já deixou de ser laço." - Mário Quintana


descobrir a identidade do outro dentro das relações é justamente isso. o desapego (não o descuido) é um exercício muito difícil de ser alcançado plenamente, começa doloroso, mas, aos poucos, mostra seus admiráveis efeitos no coração de quem o pratica e de quem é atingido pela sua prática. é ter a consciência de que o amor é feito de momentos, e que, na condição de outro ser humano, o ser relacionado não pode ter as mesmas sensações, nem viver à sombra de nós. é continuar admirando a autonomia que nos conquistou pela primeira vez, é não condicionar o relacionamento a padrões falhos, tampouco se apaixonar pelo comodismo que gera o convívio e a posse. é continuar apaixonado pelo ser, com todas as virtudes e aprendizados do seu caminho. é perceber que amar é coisa boa, e que não deve vir acompanhada das amarguras do medo, se não, perde seu sentido. é calma, maturidade, prova de amor sincero e puro.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

quando pesa amar

amor maduro todo dia me amadurece
posse é sentimento que não me apetece
o que hoje carrego não traz medo do escuro
tampouco escreve nomes no infinito do futuro

mesmo assim me sinto suja,
algo tenta me impedir,
são as correntes negras do apego
que vem direto dos confins do alter ego
prontas para me engolir

passo noites esquecendo
o que no dia tenta me atingir
é exercício de gente distinta:
faz-se com papel e tinta
para acostumar-se ao "deixar ir"

bloqueio criativo, black out, anulação
zero auto estima, auto mutilação
quando pesa amar
quando pesa o mar
de amor sem explicação...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

fotografia de banho

o vermelho daqueles cabelos sangrou meus olhos de desgosto. não que já não soubesse o gosto que tem a tradição de "trair"; não há beleza na outra que se adorna de quem ontem me viu dormir. e é com imenso cuidado e sutileza que ele, em noites de calafrios, pega uma adaga e me acaricia a pele para cortar. não sei se me apeguei ao desespero que sinto ou se ao corpo físico, ou o que o valha. sei que é com navalha que ele me diz coisas bonitas sob a luz fraquinha, e diz que haveremos de nos separar. acho que escolhi o pior momento para me apegar. dor de tudo misturado faz liquidificador de sentimento, e num momento, tudo passa a ser inesperado. noite inteira com os olhos arregalados, até parece que me enforco ou me enxergo sufocar. não sei se ainda sou menina, e me agarro por medo de nada ter para agarrar, ou, pior de tudo, se esqueci do meu passado e reaprendi a amar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

e já passou

sou nobel da paz-ciência
dou aulas de decência,
de como não se importar

não tenho dinheiro nem talento
e o que fazer desse tormento
se eu quero viajar

não sirvo pra entreter
qualidade do meu ser
é a de me encantar

vou contando as histórias
repuxando da memória
me fazendo acreditar

(e se tudo é matéria palpável e sólida
como se explica o furor ardente
que tem a morena com a saia de roda?)



09/07/2012

XV

"bom dia, maio!" assim dera boas vindas a sua ascensão e queda.
queda antes. ultimamente um passarinho intruso vinha sendo muito melhor que conversas humanas vazias.
tantas horas de contemplação a renderam um grande amor pelo outono; sua calmaria, a instabilidade de suas folhas...
não pensava em suportar a partida dessa estação, estava apaixonada pela sua efemeridade.

no fim da estação disse a ele que a desse a mão. que confiasse, pois os caminhos dessa vida são bem menos sinuosos quando estamos acompanhados.
mas não havia certeza nos gestos dele.
queria dar-lhe a mão, mas não perdia oportunidade de olhar para trás e certificar-se de também ver outros olhos.
bonitos olhos estáticos.
de certo que, influenciado ou não pela estação, não gostava de estagnar-se. mas gostava daqueles olhos. talvez gostasse do modo incerto como fluíam os dela, mas não sabia se queria dar-lhe sua história.

de início, ela pensava em entregar tudo que era seu nas naquelas mãos delicadas.
depois, apesar da beleza singular de seus gestos indecisos, o encanto das mesmas foi-se transformando em medo
medo do homem e sua maldade. pavor desses de se esconder, de querer ir embora, de chorar debaixo da cama,
de temer até os olhos do amado...

transbordando flexibilidade, ouviu um barulho no alto de sua árvore preferida.
entendeu que naquele momento seria, então, feita a eterna união.
fechou os olhos, deixando tudo para trás, e amando outros caminhos, da vida já não queria levar mais nada que não o aroma, o vento nos ombros, as breves sensações de preenchimento...
pendurou-se como mártir no balanço, e no sopro mais forte do vento, voou com o outono e sua última folha.
horizonte, longe, quieto.



hoje e maio/2012

domingo, 5 de agosto de 2012

há de amar pra consertar

me disseste que fizesse algo lindo seu com nome forte
embrulhei-me na certeza de só pulsar pro lado norte
linda a vida amanhecida da janela do segundo andar
como é doce a partida de quem não quer deixar

palavras soltas desconexas não parecem me exprimir
queria escrever-te que por nada quero te ver partir
fazer soneto, rima boa, nada assim de tom banal
mas escrevo de amor puro e isso é coisa natural

realidade é incapaz de descrever peito que chora
você pra mim deitado de costas, a agonia do agora
como é linda toda essa confusão, o peito bate
o medo de reviver a dor antes que ela me mate

o ato que enfim une macho e fêmea, carne crua
como te amo quando me entrego intensa e pura
como me perco em teu cabelo encaraco-solar
e me sou de teu semblante tão lindo de olhar

mas não é só o que te quero dizer, então apago tudo
escrevo outras mil coisas que deixam longe o descuido
o presente presenteia meu corpo junto a seu gingado
bom dia, meu amor, acordei de novo ao seu lado.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Chuva Dourada



Vos trago no dia de hoje
A missão de muito longe
De história triste contar
Vitória-régia que eu sou
Avó sábia de toda flor
'Inda me ponho a chorar

Conto como se sucedeu
Um amor que padeceu
O pobre girassol
Como pode a natureza
Dona de toda beleza
Apaixoná-lo pelo sol?
...

"Rosa linda mãe das flores
Acalanta meus temores
E a mim venha dizer:
Por que é que sofro tanto
Que pelo quente me encanto
E sem ele não posso ser?"

"Acontece, ouro de amor
Que nessa estrada, toda flor
Um fardo tem de carregar
Lírio chora branco e sombrio
Maria-sem-vergonha dá no vazio
E coral se afoga no além-mar

Onze horas só se entrega uma vez
Violeta quer gritar mas não tem voz
E a tulipa não sabe se enfeitar:
A ti foi dado o duro afazer
De pela estrela quente se perder
De o percorrer sem o enxergar"

"Por que não alcanço meu credor
Se por ele me assolo em tanta dor
Quando ele sai, me ponho a tremer?"
"A história é de veras dolorosa
Mas se que queres essa prosa
Heis que, então, vou lhe dizer:

Acontece que o sol tem aura una
E de flores, tem uma fortuna
Prontas para ele as iluminar
Banha suas irmãs, minhas filhas
Até da Rússia, as flores de tília
Daqui, flores de mel a te zombar"
...

E vendo que não era sua musa
Girassol calou-se confuso
E palavra não ouviu-se mais dizer
Seguiu seu destino castigante
Entregando a seu amante
Toda devoção do seu ser

Mas num dia, durante um eclipse
Alçou as pétalas, virou elipse
Bateu asas e subiu
Encantando todas as flores
Pelo mundo com suas cores
E em fênix se abriu

Homenagem presta-se agora
Quando dá-se em reino flora
Tal eclipse magistral
Todas fingem-se cegas
E esquecem de seus egos
Pelo amor celestial

Da fênix ouve-se o cantar
Que ao sol pudera-se juntar
Num romance lindo astral
E nas flores fica a esperança
De um dia, uma semelhança
Com o grande girassol.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

rascunho de memória

me lembro de ser pequenina
sementinha, mini gente
dor doída era de machucado
tombo de bicicleta.
arrependimento
era cortar o cabelo da boneca

me lembro de ser franzina
brotinho, incandescente
o amor sentava na carteira ao lado
mascando chiclete.
paixão
era pela banda que eu era tiete

me lembro de ser lua nova
crescendo, desabrochando
chororô tinha gosto de maquiagem
nome e endereço.
imagem
e por ela eu pagava um alto preço

me lembro de ser flor no apogeu
dançarina convidativa
varau de pétalas era minha saia
cheiro, adereço.
gandaia
rapazes me dedicando seu apreço

me sou de ser verbo presente
alguma coisa nada mais que gente
que destoa do jardim macio
navegante do pudor massivo
dando progresso ao recessivo
correndo atrás do estio
incógnita complacente
ensaio de ser vigente

me quero ser verbo futuro
nada muito além de amor maduro
que canta calmo ao ver a dor
se encanta com o voo do beija-flor
se entorpece do infinito sem temor
agente polinizador
universozinho puro
o próprio porto seguro.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

falô

você grita e me enfrenta
diz que a noite já acabou (falô!)
que meu whisky atrapalhou
fala sério, eu quero encrenca!

da nada, nada me importa
quem abre ou fecha sua porta
quem te chama de gracinha
de quem cê tira a calcinha

não me interessa se é aquela
que bagunça seu colchão
que te vê na multidão (feito cão)
que o porteiro diz: "é ela"

muito eu quero de mim mesma
sofrer é bom (pra quem tem dom)
atitude é virtude
meu espelho é amplitude (eu fiz o que pude)
se a você nada valeu
um beijo querido, até a próxima (adeus)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Contacto

Foco no caminho escolhido
Bolas transparentes
Bocas e pés ardentes
"Yo te quiero" ao pé do ouvido

Seus cabelos dourados como seus olhos
Seu corpo impecável que prendia meu foco
E tudo girava
E tudo ardia

Braço forte com que me abraça
Desenha o cheiro de querosene
Em meu corpo, o teu modo circense
A beleza latina de suas palavras...

Seus cabelos dourados como seus olhos
Seu corpo impecável que prendia meu foco
E tudo girava
E tudo ardia

No dia seguinte veio a despedida
Com gosto de brincadeira, maçã mordida
E você me disse "Buenos dias, linda
¿Por qué no me miras?"
E eu pensava: "Me leva escondida"
E me arrepiava com a sua lambida
E você se agarrava à minha barriga
A textura do sol sendo estendida
Sobre o ato da embriaguez amanhecida

A intensidade do amor, a leveza da vida

Seus cabelos dourados como seu ópio
Seu corpo impecável que prendia meus olhos
E tudo girava
E tudo ardia

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Acordo de manhã com cheiro de mar. Nada é tão puro que não seja consistente. Pergunto-me sobre como deve ser se sentir em casa, mas nada sei sobre as comunicações com os exteriores.
Indubtavelmente que nasci observando além do que deveria. Dessa maneira exerci percepção tamanha, que nada sai despercebido de meus olhos amplos e ouvidos aguçados. Nada.
As cores nesse mês de junho têm sido tantas.
Quisera eu saber dos amores que a vida reserva pra mim, visto que amar para mim sinonimiza respirar e me expressar... Respirar e me expressar beiram os vértices da poesia, vivíssima, alegra, convidativa - com vida ativa.

                                                                "Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade."
No olho de um furacão construí um forte. Deve ser por issto que quase tudo perde o sentido antes que possa me atingir. Se hoje sou, se agora sou, no momento posterior des-sou, e no próximo, pode até ser que volte a ser.
Ah, minha. Muito minha. Dona da minha sobriedade. Senhora da minha embriaguez. Relutante quanto as coisas que dizem já estarem estipuladas. Insaciável.
Sozinha e atenta como um lobo. Amante da lua como um lobo. Mutável como um camaleão.
Nada quero de viver como um troço, pra mim há muito mais do que copos, se estão cheios ou vazios. Para mim o buraco mais embaixo tem um som, e é parecido com o batimento do meu coraçãozinho guerreiro.
Luta. Abso-luta.
Sem nenhuma qualidade dessas que fazem as pessoas serem encantadoras, minha qualidade é a de me encantar. Sensibilidade aqui tem pulsação de sangue. Sou uma artista ekedi.
Condicionar-se é uma escolha falha.
Eis que volto para a cama com um gostinho maravilhoso de auto-amorização. É.

terça-feira, 29 de maio de 2012

sobre o equilíbrio

na corda bamba de um circo, sorrio
um pirilampo cor de mel passareia sobre
um céu tão roxo que faz inveja às olheiras
olheiras essas que não mais tenho, ah!
aprendo a absorver cada pluma desse ar
aprendo a absorver cada onda de mim
tenho novos olhos cor de lua
para interpretar as estrelas do meu caminho
para abraçar meu irmão e passar para ele
cada cheiro puro de cada estrada que segui

que indescritível, vejo o sol dançando
a moça da saia rodada dançando dentro de si
o moleque dançando com a bola de gude
o ancião dançando na fumaça de seu cachimbo
cada folha dançando para conquistar o vento
...tanta árvore parada ensinando sabedoria

o que era fato passa a ser boato
e o que era certeza passa a ser translúcido
e eu, que era lúcido, passo a ser deslumbrado
vislumbrando, próxima, a cor da nova aurora
uma pedra de âmbar na frequência do coração
seiva de árvore pulsando nas minhas veias
alimentando-me da energia compartilhada
com todos os irmãos de quatro, dez patas,
olhos, experiências, passagens...

floreio girassóis e princesas florescidas
flores lindas, moças flores coloridas
flores essas que dizem às suas mães - árvores
que vale a pena oscilar pelas realidades
embelezar a virtude do silêncio
colorir o verde lindo do meu ser

fogo musicado, água corrente, beija-flor
doce néctar, saudade de infância
provando de tudo como fosse pequeno
vivendo a existência linda ser único,
grande, parte de um todo que presenteia
a cada um de seus participantes - todos
na paz da paciência
no seio mestre da mãe de todos nós.

terça-feira, 22 de maio de 2012

você não gosta de cazuza

meu apaixonar-se pelo próximo tem se tornado cada vez menor.
mas ainda assim eu terei a sensibilidade de me apaixonar pela paixão dos outros, e de escrever sobre ela, e de me encantar com o simples encanto do encantar-se com a vida...
essa é a sina dos descrevedores do mundo.
na verdade, a solidão sempre me fez observar as coisas de fora...
e eu agradeço ao universo por me posicionar tão privilegiadamente para poder dizer ao mundo como eu o vejo.
aliás, o "ver" sempre foi a questão.
depois de tantos amores eternos eu percebi que a vida nos empresta um par de olhos para que nos apaixonemos. e quando a vida toma esses olhos de nós, todo encanto que vinha daquele ser passa a não mais habitá-lo, pois a vida já os emprestou para outros...
essa é a sina dos apaixonados pelo mundo.

domingo, 13 de maio de 2012

Tato

Um passo, um risco, um ponto
A realidade sendo ensaiada
E a vida sendo melhor que um conto

Tateando a liberdade intensa
Sinto o cheiro de suas asas
Soltas num céu que as dispensa

Sigo e me apaixono por cada flor
E me apaixonando pela vida
Mais perto fico de quem eu sou


Mas a vida não me diz mais tanto
Talvez eu viva a vida feito louco
Talvez muito seja só mais um pouco
Do que absorve-se de todo encanto

Estranho é quem corre procurando
Sentido para o invisível
Mil cores para o insensível
E a hora exata para o quando.


11/05/2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

Cor de Rosa

Com uma languidez certeira
E o cheirinho de jasmin
Cachoeira que escorre ladeira
E meu sangue se afoga em mim.

A cor que passa marca o instante:
Manda mãezinha lá em casa
E diz que minh'alma insensata
Fugiu no dorso de um elefante.


01/05/2012

XIX

Coração de menina ficara enterrado com seu último grande amor;
tinha medo de não sentir dor.
Curiosamente sua imaginação estava insana; tinta, pincel, caneta... Abrira uma brecha na janela da alma e parecia que apreciava tudo perigosamente de perto.
Cabia outro mundo em seus traços.
Quando deixara de amar, atingira com tudo o ápice da emoção.


01/05/2012

O Rapto Abrupto

Resolvi hoje
Escrever como reza
Não quero surpresa
Nem Thereza ao telefone

Diga aos malandros
Que eu estou de luto
Que comi de um fruto
Que não mata a fome

Hoje medito em papel e caneta
E vê se manda a preta
Não tocar no meu nome

Mais tarde não volto pra casa
Hoje minh'alma tem asa
E manda que eu me conforme.


01/05/2012
coração embrulhadin
fez fogueira pra esquentá
chamou a moça casadeira
pra mó'de nós namorá

os dois ali nos conforme
já pra se enrabichar
mas careceu do coração
deixar de se avexá

depois que me apercebi
que não era avexamento
coração tá calejado,
já tá cheio dos remendo

quando eu era mar pivete
gostava de observá
a arraia rasgando o vento,
junto eu ia a avoá

e o canto do sabiá
encantava a meninada
ninguém pisava chão,
ia com a passarada

eita, que fico encafifado
com'é que fui deixar
alma bater a caçuleta
e não deixá se alumiá

coração não se amolece
nem com cheiro no cangote
o corpo todo estremece
mas a alma dá pinote


(o que hoje tenho no peito
é de solo nordestino:
rachaduras de tão seco,
carrancudo e faminto)

domingo, 6 de maio de 2012

o senhor dos cavalos


hoje cavalgou um pouco mais cedo
pegou seu mestiço mais bonito
e sumiu pelos córregos de ouro preto

há um coro de descendentes aos prantos na sala
foi-se embora um grande mestre, um grande homem:
seu alírio, meu avô, metade europa, metade senzala.


terça-feira, 1 de maio de 2012

Completar meus cacos pendentes
Com remendas doentes
De algodão

Bate um vento, e de repente
Uma a uma,
Todas se vão.


05/02/2010

O "Meio"

Nesta vida só há 1/2:
Me jogue em um dos seus 2/4,
E em 5/10 de hora
Sem metades, eu quero por inteiro
O meu ápice no ato:
Me coma, cuspa, e jogue fora.


15/01/2010

quarta-feira, 25 de abril de 2012

(desaba)fo

não sei se é vontade de morrer sem alarde, numa tarde silenciosa
ou se é de escândalo, agir como vândalo, me pintar cor-de-rosa

(etílico elíptico epilético epicentro espiral escancarado na epiderme)

quero deixar o corpo jogado, procurando pecado na vida
escrever minha oração com calma, amenizar a alma já carpida

(vulnerável como verme vento versos vícios)

da janela degradável, vê toda essência em forma mutável, incessante
do preto do olho surge, assim como a fala urge, a imagem dissonante

(irremediavelmente inacabado)

sábado, 21 de abril de 2012

O Peso da Idade...

Não avançada, nem nada
Mas a idade que delimita
Uma proximidade
Com a cara escancarada
Da vida.

Dói não ter mais pipas
Ou barquinhos no chuveiro
E doem os caminhos
Que ainda não são os derradeiros.

A insegurança como um soco
No coração que está oco
De um espírito condoreiro.


16/03/2012

Engatinho

De quatro pela casa
Tentando alcançar
Minha pequena fera.

Hein, gatinho?
Achei tê-lo ouvido
Rir do meu desatino...
Nos engatinhamos
Do verbo Tornar-se Felino
E a cada olhar que me dirige,
Mais me fascina o pequenino.


16/03/2012

domingo, 8 de abril de 2012

XII

Ardia.
Precisava desvencilhar-se da imagem da carne daqueles lábios.
Ardia.
O dia escancarando a sua supremacia e a água quente descendo como um rio da panela esquecida.
E tudo ardia.
A brisa fria que despedia-se junto com a madrugada carburava o cigarro entre seus dedos por si só. Apreciava àquilo com tanta devoção, como sempre a fascinara o fogo em seus múltiplos aspectos.
Passava os olhos pelas páginas, mas tudo estava turvo por toda espécie de fumaça que enchia a casa de calor.
Mas faltava. Faltavam aqueles lábios...
Pegou o telefone, colocou-o na orelha. Súbito lembrou-se que não tinha a quem ligar.
Exitou. 
Mas mirou a janela e deu-se conta de que era inverno.
E não há espaço para colapsos numa terça feira.


25/03/2012

VIII

Paralelo ao firmamento estavam aqueles belos olhos azulados.
Não proferia palavra. Parecia que tudo à sua volta era alheio aos pequenos planetas aquáticos que orbitavam contemplando a relva daquele quente dia de março.
Ao meu lado haviam dois gramados verdes na  forma dos olhos do outro.
Dois perfeitos girassóis nasciam de sua pupila, no fundo verde forte de seus olhos.
Quis exitar. Mas os girassóis me contemplavam. Fiquei com eles.
Já que o planeta cujo meus olhos lunares orbitam, habita um outro corpo.
Raízes.


02/03/2012

X

Parou, olhou para o copo com enorme repulsa. Um inseto de listras amarelas.
Como poderia não ter percebido aquele gigante ali dentro?
Como em toda a sua vida, o copo estava meio cheio.
Quis beber. Digo, não o gim, nem o inseto, mas o copo. Tudo andava tão líquido...
Parou e ouviu uma voz. Seria aquela voz? Titubeou um pouco antes de dar-se conta que não era real, nem imaginário; de fato, o inseto estava falando com ela.
De repente estava pálida e atônita.
Arremessou o copo o mais longe que pôde.
O dono do café não gostou da cena, mas não se manifestou.
Ela, por ela mesma, levantou-se e sorriu meio débil. Há muito não se sentia tão infantil, e tão liberta.
Andava pelo Passeio Público.
Se espantou ao ver, meio a tanto líquido do lago, o inseto caminhando sobre a água.
Todos os seus fluidos corporais, naquele momento, a escorriam pelos olhos.
Apenas calmamente.


13/02/2012

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Bromélias de Inverno

E quando parecia primavera
Eram as bromélias de inverno a alegrar o dia
E essa tempestade que meu coração governa
Cai serena para esconder toda a agonia

Olhei lá fora, senti seu cheiro no luar inverso
Levo comigo aquele momento, memória constante
Para dizer que te quero não poupo verso
E o uivo dessa ventania voraz canta esse instante.


05/11/2007

II

Tinha sempre aquela sensação de beira de abismo.
Como se todo chão fosse palpável, de uma consistencia flácida.
Mas a beleza da areia movediça fascina, impele a tocá-la. Há contemplação em todo mistério.
Enquanto nada parecia estável, o céu brilhava.
E tudo era lindo, conquanto fosse estrela.


15/01/2012
"Quando você chegar, é mesmo que eu estar vendo você.
Sempre brincando de velho, me chamando de Pedro, me querendo menino que viu de relance.
Talvez um sorriso em homenagem à Pedro.
Pedro do mundo dum bom dum bom dum bom...
Fique quieto que tudo sana. Que a língua portuguesa, a língua da luz. A lusitana fez de você o primeiro guri.
Meu guri, meu gurizinho.
Água mole em pedra dura, pedra pedra até que Pedro."
Galvão/ Moraes Moreira



                                                      "Eu perdi o meu medo
                                                        O meu medo, o meu medo da chuva

                                                       Pois a chuva voltando

                                                        Pra terra traz coisas do ar
                                                       Aprendi o segredo, o segredo

                                                       O segredo da vida

                                                        Vendo as pedras que 
                                                       Choram sozinhas no mesmo lugar
                                                        Vendo as pedras que
                                                        Sonham sozinhas no mesmo lugar"

                                                                                            Raul Seixas



Marina é o nome do porto
E o karma da marca no corpo
De quem nunca pode partir.

O amor tem nome bem forte
E não pode contar com a sorte
De poder saber onde ir.

A própria sabedoria
Em forma miúda, chamada Sophia
O mar e a pedra não puderam sentir.

O balanço ameno conforme os anos
À rocha trouxe muitos enganos
E o mar afogou-se em si.

No desespero de viverem se encontrando
A água e a pedra, o ar imantando
O dilema da vida natural:

Por que não se unem sinceros
Ou se possuem eternos
Se o desejo da alma é imortal?